08 Nov
08Nov

Sempre pensei que teria um adulto pra me ajudar a resolver os pepinos mais sérios da minha vida. Talvez porque eu seja a “raspa de tacho” da família (meu irmão é 11 anos mais velho que eu, e minha irmã, 14). E durante muito tempo, eu fui a “caçulinha” do meu núcleo familiar mais próximo (até meu sobrinho nascer - quando eu já estava com cerca de 22 anos).

Desde nova eu fui atrás do que queria, e sempre tive esse posicionamento de atitude, de proatividade. Passei num colégio técnico e numa faculdade públicas sem nenhum cursinho, comecei meus estágios bem cedo, me formei com menos de 20 anos. Passei um bom tempo almoçando coxinha pra economizar, estudava inglês em casa (em épocas em que nem tínhamos internet), aos 22 anos passei a trabalhar em Sampa - viajei todos os dias por cerca de 10 anos - enfrentando chuvas, acidentes na estrada, fretado, trânsito… Gastrite e labirintite por estresse de tanto trabalhar… É, quem vê close não vê corre!

De repente acontecem coisas que fazem você perceber que o adulto agora é você, e você terá que enfrentar as barras mais pesadas do mundo. 

Nada foi tão difícil pra mim do que os momentos que sucederam o falecimento do meu pai. Nunca quis tanto um “adulto” ao meu lado que resolvesse os problemas no meu lugar. 

Acabar de perder uma das pessoas que você mais ama na vida e ter que ir numa funerária pra resolver toda a burocracia, foi terrível. A mulher me perguntava as coisas e eu só queria chorar. Não queria responder questões sobre meu pai e muito menos escolher caixão (graças a Deus meu cunhado foi comigo e fez essa última parte).

No dia seguinte, outro aperto no coração. Ter que decidir sobre enterro, cremação, fechar contrato, pagar isso, pagar aquilo. Seu mundo tá desabando por dentro, mas a vida aqui fora tem que continuar. 

Aí quando parece que acabou, vem inventário, atestado de óbito, retirada da pessoa de convênio, mudança de nome de titular de outros assuntos. Enquanto isso, sua vontade é de ficar quieta, chorar - já que trazer meu pai de volta não é uma opção. E quem já passou por uma perda dessa, sabe que qualquer lembrança é capaz de fazer você desabar.

E depois de tantos perrengues que vivi nessa vida - muitas vezes sozinha - foi nesse momento em que me senti mais insegura, frágil e vulnerável e aprendi de uma vez por todas que no fim das contas - apesar de toda a rede de apoio, família e amigos que você possa ter - você (e somente você) é quem vai ter que resolver todas as broncas que aparecerem pelo caminho.  

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